São José dos Ausentes, RS 
Em Janeiro de 2002, saindo de SP e passando por Florianópolis

A viagem

Quando comecei a planejar esta viagem para o Sul, não tinha exatamente noção do que iria encontrar pela frente. Para amenizar as novidades, coloquei Florianopolis no roteiro pois já conhecia esta bela ilha de outras viagens, porém desta vez estariamos descobrindo a ilha de Mountain Bike.

A idéia inicial era conhecer o parque de Aparados da Serra, começando por Cambará do Sul onde visitariamos o Canion Fortaleza e Itaimbezinho, e depois estariamos rumando para São Jose dos Ausentes para conhecer uma região de fazendas e voltar pela Serra do Rio do Rastro. Porém acabamos ficando apenas em São Jose dos Ausentes devido à calorosa acolhida da Fazenda Montenegro, relatada mais adiante.

A viagem foi feita com uma S10 Turbo Diesel 2.5 cabine dupla, 4x4 com pneus originais (225x75R15) e duas bicicletas Mountain Bike Alfameq e Specialized, sendo a primeira com uma adaptação de bagageiro para levar nossa filha Isabela de 8 anos na garupa.

Dia 1
São Paulo – Serra da Graciosa – Caiobá

Iniciamos a viagem sem pressa, com objetivo de descer a Serra da Graciosa que ainda não conheciamos. O trajeto até o inicio da serra foi feito praticamente todo sob chuva, e infelizmente na descida da serra não foi possivel observar o Complexo do Marumbi.

Portal da Serra da Graciosa... está chovendo ! Tira logo a foto ! he he

A Serra da Graciosa é uma estrada antiga ainda com calçamento de pedras e muito florida, porém com a chuva torna-se traiçoeira e perigosa, sendo que o 4x4 HI foi muito util nesta parte para garantir o controle da S10 nas curvas fechadas. Mesmo com a chuva, foi possivel observar as belezas desta estrada.

Fizemos uma parada em Morretes, mas devido à chuva decidimos seguir viagem para Matinhos, e procurar um hotel para pernoite em Caiobá, onde ficamos hospedados no hotel Fragata, uma das poucas opções que tem preço justo e uma ótima piscina, porém quartos um pouco apertados.

Caiobá é uma das poucas praias do Paraná, mas é bela e possui boa infraestrutura. Vale a pena dar uma caminhada na orla maritima e experimentar os restaurantes da região antes de seguir viagem.

Dia 2
Caiobá – São Francisco do Sul – Florianópolis

Saimos de Caibá com tempo bom, e seguimos pela balsa para Guaratuba. A partir daí, pegamos o acesso pelo asfalto para Joinville via BR101 porém no Posto Rodoviário percebi uma saida de asfalto com placa indicando para Itapoá... não resisti ao desconhecido e decidimos nos aventurar sem saber exatamente onde iriamos passar.

Balsa na travessia para Guaratuba.. a Bebel se diverte !!

A aventura começou logo depois do Posto Rodoviário, onde o asfalto terminou e deu inicio a um trecho de areia e terra batida repleto de buracos devido às chuvas. Havia poucos carros trafegando lentamente, achei melhor acionar a 4x4 HI e seguir em maior velocidade para amenizar o tranco dos buracos, o que foi muito bom.

Seguimos até Itapoá acompanhando as praias, porém a partir daí o caminho para Joinville seria por uma outra estrada de terra, onde as emoções seriam maiores. Foram inumeros atoleiros devido à chuva, que foram vencidos sem dificuldades pela S10, que em nenhum momento solicitou a reduzida, mas andou de lado em vários trechos. Como estavamos em apenas um carro, e sem guincho, não seria boa idéia ficar atolado num lugar como esse...

A caminho de Itapoa, seguimos apenas o rumo pelo GPS... não sabemos o que vem pela frente...

Chegamos a São Francisco do Sul pelo lado do continente. Esta ilha que pertente a Santa Catarina abriga muitas atrações históricas e turisticas, mas decidimos apenas experimentar alguns camarões no restaurante Varandão e depois pegar a balsa que sai de hora em hora na alta temporada para chegar a Joinville onde voltamos ao asfalto e seguimos viagem pela BR101 em direção a Florianópolis.

Chegando em Florinopolis, fomos direito ao Restaurante Caramujo, onde o proprietário Valdori nos recebeu com muia dedicação, mesmo estando a 8 anos sem nos vermos. Amizade assim é coisa rara nesta vida. Para nossa surpresa, o Valdori agora tem chalés para alugar, muito limpos e com preços justos, com direito a vista para o canal que liga a Lagoa da Conceição a praia da Barra da Lagoa. Vamos ficar !

Dia 3 a 6
Trilha de bike e canto da praia dos Ingleses em Florianopolis

Em Florianopolis, estavamos a procura de um roteiro para Mountain Bike, sendo que minha filha de 8 anos seria minha garupa na bike, que foi adaptada com um bagageiro e pedaleiras extras para ela. Depois de algumas explorações de carro, decidimos nos aventurar pela trilha que começa no Canto dos Araças, ao lado da Lagoa da Conceição, e termina em no Canto da Lagoa, com opção para Ratones. Nossa opção foi atravessar a lagoa de barco e continuar o roteiro no Rio Vermelho, retornando para o Araçás pelo asfalto e aproveitar o visual de fim de tarde no mirante antes da Praia Mole e depois na lagoa...

Este roteiro de bike apresenta dificuldade média na trilha, e fácil no asfalto. Prepare-se para carregar a bike em vários locais, e aproveite para pedalar onde for possivel... só não esqueça de curtir o visual, sem pressa.

Alguns dias depois, descobrimos um bar no canto direito da praia dos Ingleses. Esta praia está quase totalmente tomada por casas e comércio, e a faixa de areia está cada vez menor, porém no canto direito descobrimos um bar-marina com super atendimento e nenhuma casa por perto... só que para chegar la você vai precisar de reduzida 4x4 para atravessar um trecho de areia e alagados, muito divertido, com acesso a partir do caminho para o Costão do Santinho. Veja no tracklog do GPS como chegar lá.

Dia 7
Florianopolis – Serra do Rio do Rastro - Fazenda Montenegro (São Jose dos Ausentes)

Saimos de Floripa as 10 horas com destino desconhecido, rumo a Aparados da Serra. Fizemos uma parada em Tubarão, onde o frentista do posto nos deu a dica : “Está um dia perfeito para subir a serra do Rio do Rastro”.... inicialmente eu pensei em fazer este caminho na volta, mas diante desta recomendação, não resisti e pegamos o caminho para Gravatai e Orleans...

Final da subida da Serra do Rio do Rastro... belissima paisagem a caminho de S.J.Ausentes

A serra do Rio do Rastro é um dos lugares mais belos que já passei. Mas guarde seu fôlego para esfriar o mingau mais adiante. Chegando em Bom Jardim da Serra, descobrimos que nosso roteiro offroad para Silveira e São Jose dos Ausentes estava impedido por motivo de reforma em uma ponte. O tracklog alternativo que eu tinha seguia a partir de São Joaquim, para onde rumamos ainda pelo asfalto. Compre filme fotográfico em São Joaquim pois depois você não vai encontrar.

A partir de São Joaquim, o caminho era de terra. Se não houver chuva, o caminho é bom para qualquer carro, mas as marcas de barro e atoleiros no caminho me levam a acreditar que não seja um caminho recomendável para carros sem 4x4. Alguns rios possuem caminhos para atravessa-los por fora da ponte para os mais aventureiros.

Passamos por vários rios e serras no caminho, onde era possivel avistar apenas casas de peões e fazendeiros. Vale a pena parar nos rios para curtir o visual, mas cuidado com o horário porque é aconselhavel chegar ainda de dia em Silveira para não errar o caminho.

Travessia do rio Pelotas... a ponte de concreto nos leva a sinuosas estradas de terra 
por entre as plantações de maçã

Chegamos já de noite na fazenda Montenegro seguindo o tracklog do GPS, que felizmente estava correto. Fomos recebidos pelo Sr. Domingos, que reforçou a janta para os visitantes inesperados, afinal geralmente os hospedes ligam para avisar quando vão chegar, o que não foi o nosso caso.

Em pleno verão, fez 6 graus a noite, porém as acomodações são muito confortáveis e preparadas para temperaturas negativas no inverno. Após a janta e o tradicional chimarrão, nos deitamos para acordar cedo no dia seguinte.

Somente no dia seguinte é que temos noção do paraiso que encontramos...

Dia 8
Cavalgada ao Canion Montenegro e passeio 4x4

A fazenda Montenegro fica a 40km da cidade mais proxima, São Jose dos Ausentes, acessivel apenas por estradas de terra. Segundo a história da região, este nome é devido às dificuldades na ocupação do local. A primeira doação de terras feita pela Coroa Portuguesa não foi bem sucedida, e os colonos foram expulsos pelos Indios Bugres que habitavam a região, e também pela dificílima vida que se levava em lugar tão ermo. Muitos anos depois, as terras foram a leilão, chamado na época de "Leilão de Ausentes", porém o seu comprador também não colonizou o local e novamente as terras foram à Leilão de Ausentes... saiba mais aqui...

Eu nunca havia andado de cavalo, mas a raça crioula é muito dócil e inteligente, portanto recomendo os passeios de cavalos a qualquer um.  O caminho ao Canion Montenegro é belo e tranquilo, mas algumas passagens de buracos e desniveis dão uma certa adrenalina aos cavaleiros de primeira viagem como eu.

A visão do Canion Montenegro é imperdivel e de tirar o fôlego. Reserve uma manhã inteira para este passeio.

Canion Montenegro, e ao fundo o Pico Montenegro, ponto mais alto do Rio Grande do Sul... 
somos minusculos perante a natureza !

Na volta, pegamos o carro e fomos conhecer o desnivel de Rios e o cachoeirão dos Rodriges, este ultimo uma grande queda d’agua com belos visuais, mas para chegar à base da cachoeira requer uma caminhada de 2 horas. O desnivel de Rios é muito belo, e também merece um bom banho no rio. Não deixe de conversar com o Seu Rodrigues (no caminho para o Cachoeirão dos Rodrigues) e também a Nilda (no caminho para o desnivel dos Rios), e se tiver a oportunidade peça pra eles tocarem a gaita, que é festa na certa.

Conversando a noite, resolvemos ficar na Fazenda Montenegro e cancelar a ida a Cambará do Sul, pois fomos conquistados pelas acomodações aconhegantes da fazenda , pela hospitalidade com que fomos recebidos e pelos inumeros roteiros a serem descobertos.

No final da tarde fomos a São Jose dos Ausentes assistir ao Rodeio Crioulo, onde a molecada monta os cavalos chucros sem qualquer sela ou arreio, montando a pelo e segurando apenas na crina do animal... muito divertido ver o apuro dos ginetes... Durante a noite houve também um baile tipico gaucho, mas guardamos nossas forças para o dia seguinte e retornamos à fazenda.

Dia 9
Cavalgada ao Peral Branco

O dia se inicia com um belo café da manhã, onde quase tudo é preparado na própria fazenda. Recomendo acordar cedo e ir direto ao galpão, onde você poderá experimentar o famoso “Camargo” que é o café com leite tirado direto ao pé da vaca... um pouco forte para que não está acostumado, mas muito bom.

A cavalgada rumou para o Peral Branco, onde uma cachoeira enorme no Rio Sepultura nos aguardava. Agua limpa e gelada, merece um banho rápido. No caminho, alguns obstáculos naturais superados com tranquilidade pelos cavalos dóceis e bem treinados da Fazenda.

A cachoeira do Peral Branco ! As águas cristalinas lavam nossa alma neste paraiso perdido na serra...

Voltamos para o almoço, satisfeitos com as paisagens e com o prazer da cavalgada num dia azul e ensolarado...

Dia 09
Fazenda Montenegro – Serra da Rocinha – São Paulo

Iniciamos o retorno neste mesmo dia, saindo da Fazenda as 14:00 e chegando em São Paulo as 04:00 da manhã. É bastante puxado e não recomendo este horário de retorno, e você deve reservar pelo menos umas 14 horas para percorrer os 1.000km do retorno.

Vários caminhos da região... em cada um deles, novos motivos para retornar...

Saindo da Fazenda, a estrada de terra nos leva a Silveiras, depois S.J. dos Ausentes. No caminho, podemos observar porque a região tem o nome de "Ausentes", pois o caminho entre a fazenda e a cidade leva pelo menos 1 hora, e a paisagem é somente de campos de serra, com poucos sinais de ocupação humana. Durante o inverno, a relva baixa fica totalmente seca e amarelada, e o pessoal da região chama poeticamente de "Campos Dourados de Cima da Serra"...

Estradão sem fim...

Então inicamos a descida da serra da Rocinha, que é muito bela mas perigosa, com várias curvas fechadas cheias de cascalho, até chegar a Timbé do Sul, onde finalmente pegamos o asfalto para Turvo e finalmente a BR101.

Descendo a serra de São Jose dos Ausentes, rumo à BR101

Ao chegar em casa, fica aquela enorme saudade e a certeza que voltaremos em breve...