Relato : Anderson Cunha
Fotos : Eda Carvalho
A trilha da Praia Brava fica em
Boissucanga, litoral norte de São Paulo, e sua entrada se localiza no
inicio da serra em direção a Maresias. O inicio da trilha é marcado por
algumas casas, onde normalmente se vê estacionados Lands, Bands, e
diversos veículos offroad que desistem de percorrer a trilha logo na
primeira subida.
Mapa de localização geral. Porém a
trilha existente atualmente não segue para a direita,
em direção a
Maresias, como mostrado no mapa.
Logo no inicio, temos uma seqüência de erosões numa rampa muito
inclinada, quase impossível de se vencer em caso de chuva. Como existem
muitas pedras soltas, e o barro forma um musgo verde permanente, quanto
mais pesado o carro, mais difícil fica subi-la. Existem poucas árvores
resistentes para uma ancoragem segura.
Logo no inicio, uma seqüência de erosões dificulta a subida.
O
trecho tem 150 metros e assusta logo de cara. A maioria não se
arrisca..
Pela falta de aderência, principalmente com o piso molhado, é
altamente
recomendável
ter bloqueio de diferencial traseiro para evitar
problemas na subida.
Choveu a semana inteira, mas
naquele dia tivemos uma trégua...
Nosso planejamento começou 3 meses antes, e tivemos duas tentativas mal sucedidas de fazer essa trilha, sendo a primeira interrompida pela queda de uma árvore respeitavelmente grande em cima do Engesa que nos acompanhava, e na segunda tentativa (num domingo) a chuva nos impediu de concluir a trilha em um dia apenas.
Tivemos sorte nesse dia. O céu ensolarado nos deu a confiança
necessária de que dessa vez a Praia Brava seria nossa. Para garantir a
segurança e aproveitar melhor a aventura, estávamos preparados para
acampar na praia, que é totalmente selvagem e desabitada, pois seu único
acesso é essa trilha quase instransponível.
Vencemos a primeira subida com tranqüilidade, sem precisar
utilizar os guinchos. Porém, ao ver o trabalho da suspensão e dos pneus
tracionando no musgo verde das erosões, pudemos perceber o quanto os
bloqueios de diferencial em ambos os jipes contribuíram para a subida,
aliada ao baixo peso dos suzukis.
Vejam acima essa pedra... ao
resvalar nela, o ShaZam perdeu o rumo e
quis subir o barranco
à esquerda... nada que uma ré não resolva...
abaixo, o Simonrai trabalha firme na tração...
Para chegar ao topo do morro, passamos também por um trecho de pedras pontiagudas que precisam ser abordadas com cautela, evitando choques com as partes baixas do veiculo. Novamente, bloqueios auxiliam na abordagem segura, e os pneus com baixa calibragem agarram nas pedras, colocando os jipes cada vez mais acima do morro.
Lá em cima, deparamos com mais uma dificuldade : uma arvore caída no meio da trilha. Concluímos que a única alternativa seria corta-la antes de remove-la, pois a arvore tinha pelo menos 10 metros adentro da mata. Após várias bolhas na mão, conseguimos quebrar o restante da arvore com o guincho, patescando na arvore à frente para remove-la do caminho. Um trabalho conjunto de força bruta e raciocínio. Mais à frente, outra arvore que porém pôde ser removida com todos empurrando.
Primeiro obstáculo. Vamos
ter que cortar, pois os 20m restantes da arvore
está presa no
meio da mata à direita...
Faltando pouco para terminar de
cortar a arvore. Depois, usamos o guincho para
remove-la do
caminho e prosseguir a aventura.
Eda tenta
descer a trilha a pé, mas é difícil.. imagina de jipe
?
Acima, o Simonrai aguarda a preparação da
ancoragem de segurança, que foi feita com o
ShaZam amarrado em uma
arvore e o guincho dando segurança para o Simonrai não
rolar
barranco abaixo
Repare que apenas a beirada dos pneus apóiam no
barranco... o túnel
formado embaixo
quase cabe um
adulto.
Mesmo quando a valeta em "V" termina,
ainda temos dificuldade para sair dela.
Abaixo o
ShaZam passa com emoção, pois não há
mais ancoragem de segurança...
Continuamos a trilha, agora mais confiantes pela conquista da temida valeta em "V", porém ainda mais cautelosos para atingir nosso objetivo em segurança.
O mato à esquerda esconde o abismo... onde
começa o mato, há
menos de 1 palmo de chão
para apoiar o
carro...
Uma mãozinha para não escorregar no facão, o que seria
fatal...
abaixo, o ShaZam toma
coragem para entrar
na vala, que vista de
perto mostra sua
dificuldade...
Chegamos ao ultimo obstáculo, um trecho de pedras pontiagudas, que é facilmente vencido após a experiência adquirida nos obstáculos anteriores.
CHEGAMOS ! Foram 6 horas de muita
tensão e adrenalina... o sol brilha e o céu azul nos
recebe com alegria
na tão sonhada Praia Brava !
Vencemos as pedras pontiagudas, já cientes do caminho ideal, e paramos para analisar a erosão serpenteando à nossa frente. Definido o caminho ideal, agora o ShaZam vai na frente e logo ultrapassa a erosão, graças à eficiente tração proporcionada pelos pneus Blackstar Guyanne e os bloqueios de diferencial. O Simonrai segue o mesmo caminho, mas se enrosca ao finalizar a erosão. Nada que uma ré não resolva, colocando-o novamente no caminho ideal.
Resolvi seguir pela erosão, o que parecia
mais seguro no momento
em virtude da inclinação...
Abaixo, o
Simon enrosca de leve, e segue outro caminho
para subir...
Como o sol queimando forte sobre nós,
ficou ainda mais fácil direcionar os Suzukis pelo estreito caminho à nossa
frente. Tenho que entrar na erosão em um determinado trecho, e para sair
até que foi fácil, pois as duas rodas traseiras tracionam simultaneamente.
Todo cuidado é pouco pois o barranco de 60 metros nos espreita de perto.
Fico imaginando este trecho com chuva, pois deve ficar muito liso e
altamente arriscado.
Chegamos à valeta em "V", e paramos para analisar a melhor abordagem. Minha decisão é colocar o ShaZam dentro do "V" desde o inicio, que é uma curva fechada, e tentar fazer a curva dentro do "V". Começo bem, mas logo a roda dianteira cai dentro do "V" e o inclinômetro crava imóvel nos 40 graus, indicando que estou mais inclinado do que isso. Uma pequena ré melhora a situação mas não resolve o problema, e fico entalado na curva, apoiado nas paredes do "V" e com uma inclinação ainda não experimentada pelo ShaZam. O jeito é tirar no guincho !
Acima... cadê o pneu direito do ShaZam ???? Abaixo... achou !
Resolvo soltar o guincho e tentar alinhar a roda com a parede, e novamente puxar no guincho... melhorou ! Logo estou no topo do barranco, percorrendo a erosão em "V" com 1/2 pneu em cada parede, hora usando a tração, hora usando o guincho, um Work 1200 capaz de partir o Vitara no meio.
Parece que vai capotar para trás. Ao tentar a recuperação, percebemos que o Samurai apagou. OPS ! Medimos a bateria, que parece ok, e verificamos os cabos e fusíveis. Nada encontramos.
Acima, reparo rápido na parte elétrica e logo
estamos andando novamente...
Passamos pela arvore cortada no dia anterior, e descemos as pedras e as erosões sem descer do carro, pois agora já conhecemos o caminho. Utilizamos os facões para direcionar os carros morro abaixo com segurança, e logo atingimos o asfalto da Rio Santos.