Aiuruoca MG
Em Outubro de 2003, caminho por Itatiaia e Fragária

Relato : Anderson Cunha
Fotos : Eda Cunha

No dia 25 e 26 de Outubro, decidimos explorar a região de Visconde de Mauá, Itatiaia e no final, fazer um acampamento selvagem em Aiuruoca, mais precisamente no Retiro dos Pedros. Mesmo marcando com alguma antecedência, acabamos indo em apenas um carro para o exploratório, o que nos rendeu algumas emoções a mais. A partir de alguns tracklogs, conseguimos levantar os caminhos desta região, e partimos a bordo do nosso Land Rover 110 em 5 pessoas, eu, minha Esposa Eda, nossa filha Isabela de 10 anos e nosso primo Thiago, que nunca tinha andado de jipe.

Como o camping seria selvagem, a 2.200 metros de altitude, tivemos que preparar alguns equipamentos para minimizar as possíveis dificuldades. Para isso, renovamos a antiga tralha de acampamento, e nos surpreendemos com a qualidade dos acessórios para camping atualmente diponiveis no mercado. Na bagagem, levamos fogareiro portátil, lampião idem, colchão de ar inflável, sacos de dormir para 6 graus, cadeirinhas, mesinha, comida semi-preparada, caixa térmica para as bebidas, e muita disposição para enfrentar o desconhecido.

ITATIAIA

Nosso roteiro se inicia em Engenheiro Passos, às margens da Via Dutra (BR116). Subimos por uma estrada asfaltada, com curvas muito fechadas, rumo a cidade de Itamonte. No alto da serra, onde há um posto de fiscalização da Receita Estadual, seguimos à direita por uma estrada semi-pavimentada, rumo ao Parque Nacional de Itatiaia.

Fizemos uma rápida visita ao parque, e tiramos algumas fotos do caminho da portaria até o Abrigo Rebouças. O PNI nos pareceu a meca do Trekking, e certamente vamos retornar para uma visita mais demorada e recheada de caminhadas...

Retornamos um pouco pela estrada, e pegamos o trevo rumo à Serra Negra e Fragária. No horizonte, uma chuva começa a se formar, e ficamos animados com a possibilidade de mais emoções no caminho a frente... porém não imaginavamos o que estaria por vir...

A PEDRA

O caminho era belissimo. A paisagem era maravilhosa, descendo uma pequena serra rumo a Fragária. No caminho, nenhuma dificuldade, pois a estrada havia sido nivelada recentemente, então seguimos à frente. De repente, o tracklog nos indica uma saida à esquerda, e olhando o caminho adiante não vemos dificuldade... porém a chuva começa a cair...

Iniciamos uma descida, que nem parece tão ingreme, e vamos conversando tranquilamente quando de repente, percebo que não tenho mais controle da direção, apesar de estar em 1a reduzida, com o diferencial bloqueado e o Defender está apenas em marcha lenta... talves a menos de 10km/h.. mas o carro nitidamente começa a escorregar ladeira abaixo, rumo a um grande precipício à nossa direita...

Acelerando e virando a direção no sentido contrario, e com a ajuda de uma pedra que calçou o pneu dianteiro direito, ficamos novamente paralelos à estrada, parando junto ao barranco do lado esquerdo. Analisando os pneus do Defender, pude entender o que aconteceu. Uma terra branca e bastante fofa, que com a chuva ficou parecido com aquele barro de mina d´agua, formou uma esteira que aderiu ao pneu e me tirou completamente o controle do carro. Mesmo o mais agressivo pneu MUD teria sofrido o mesmo problema...

Olhando à frente, o caminho não me parecia dificil, mas uma nova chuva se formava no horizonte. Após a  indicação de um motoqueiro (morador local) que passou por nós e confirmou que o terreno à frente seria bem mais firme e que a chuva não nos pegaria no caminho, seguimos rumo a Fragária e Campo Redondo, já aliviados do susto...

FRAGÁRIA e CAMPO REDONDO

Logo adiante, chegamos à vila de Fragária, um punhado de casas inscrutadas num pequeno vale e rodeado de montanhas. Como a chuva passou, os pastos estão verdejantes e podemos avistar ao longe outras estradas de terra, levando a caminhos desconhecidos...

Logo adiante passamos por Campo Redondo, outro vilarejo muito pequeno mas igualmente belissimo, com pequenas casas e moradores muito simpaticos. Se o mundo acabar, vão ter que mandar alguém avisar esse povo daqui ! he he..

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Já são 5 da tarde, e estamos bastante atrasados para seguir o caminho pretendido pela vila de Alagoa, rumo a Aiuruoca. Decidimos então seguir rumo a Itamonte, de onde vamos seguir pelo asfalto para Aiuruoca, um caminho bem mais longo porém mais sossegado (e sem sustos) e provavelmente menos cansativo... foi uma boa escolha !

CAMPING SELVAGEM

Chegamos em Aiuruoca no limiar do anoitecer, e seguimos sem demora a trilha com destino ao local de acampamento. Conforme iamos subindo a serra do Pico do Papagaio rumo ao Retiro dos Pedros, o sol foi se escondendo e a noite veio chegando lentamente. As pedras do caminho parecem bem maiores com a penumbra dos farois, mas a tração dos pneus está boa e não temos problemas na subida. Depois de pouco mais de uma hora, já com a noite em total escuridão, chegamos ao ponto mais alto e abrigado, onde começamos nosso acampamento.

O cardápio do jantar incluia um risoto ao fungi, e frango defumado. O equipamento que montamos ficou muito bom, e logo estavamos provando um bom chocolate sob um céu tão estrelado que mais parecia uma projeção do planetário... ou seria o contrário ?? he he... Com o cansaço do caminho, logo todos estavam enrolados dentro do saco de dormir, para uma boa noite de sono...

Somente no outro dia de manhã podemos ter a completa noção de onde estamos.

Alguns cuidados são tomados para não deixar nenhuma marca de nossa presença no local. Todo o lixo foi recolhido, e nenhum produto ou agua suja foi derramado no riacho nas proximidades, nem mesmo a água de escovar os dentes... ao iniciar a descida, olhamos nosso local de acampamento e constatamos que é impossivel ver onde nós acampamos, pois não há sinais... muito bom ! Infelizmente nem todos tem a mesma preocupação, e recolhemos algum lixo de outros campistas sem consciência... 

A VOLTA

No offroad, as vezes aquilo que é fácil subir, para descer fica bem complicado ! Os buracos da noite anterior pareciam estar ainda maiores, e as rampas de descida ainda mais inclinadas. Na maior parte do tempo é possivel apoiar os pneus em valas no meio das pedras, garantindo assim que o carro não perca o rumo...

Seguimos ladeira abaixo, rumo à Pousada DoladoDela ( www.doladodela.com.br ) e vamos tirando muitas fotos pelo caminho...

O dia está ensolarado, e o céu azul deixa a paisagem da montanha ainda mais estonteante... vamos descendo vagarosamente para curtir cada metro deste belissimo caminho...

Chegando na pousada, o Guilherme nos informa que o almoço acomoda mais 4... oba ! Almoço mineiro feito no fogão de lenha, e ainda para completar, um geladissimo banho de cachoeira ??? Literalmente lavamos a alma...

O Guilherme nos apresenta os novos aposentos da pousada, onde é possivel abrigar grupos de até 30 pessoas no total. Tudo decorado no estilo de cabana de montanha, com uma interminável coleção de peças de arte Indianas... belissimo ! Isso tudo a 1.900 metros de altitude, num local onde chega-se apenas de 4x4, as vezes nem assim... he he

Mas o dia está acabando, e é hora de voltar para a civilização. Carregamos o carro com as bagagens, a memória com mais lembranças inesquecíveis, e a camera fotográfica cheia de imagens... tchau Aiuruoca !

Abraços selvagens
Anderson Cunha, Eda, Isabela e Thiago